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16 de mar. de 2011

É TUDO IGUAL. SÓ MUDA O ENDEREÇO...


Caros leitores,


o Pós-Première nasceu há pouco mais de um ano como um projeto descontraído, um ambiente na rede onde poderia repartir minhas opiniões sobre o cinema e debater com outras pessoas que dividem a mesma paixão que a minha.

Recentemente, recebi uma proposta que não poderia recusar. Don Vito Corleone faria o mesmo. Inclusive, esse é o motivo da irregularidade das postagens nas últimas semanas, acordos ainda estavam na mesa. Um veículo de comunicação da cidade que moro me convidou a hospedar o blog em seu site. Como jornalista em formação e com o tal diploma abolido pelos incompetentes do STJ, topei no ato. Sem falar que o Gazeta Maringá praticam jornalismo de qualidade, e eu jamais submeteria o Pós-Première a qualquer Zé Jornalista por aí.

Sendo assim, peço aos meus amigos e leitores que conquistei nesse espaço que migrem para lá e alterem o link para este aqui: http://www.gazetamaringa.com.br/blog/pospremiere/

Este será meu novo endereço.
Mas o resto, já sabem ou nem deveriam duvidar: continua o mesmo.

Abraços!
Elton Telles

25 de fev. de 2011

Oscar 2011 - Comentários e Previsões Finais (Categorias Principais)


MELHOR FILME




Vai Vencer: O Discurso do Rei? Não. A Rede Social!

Votaria em:
Toy Story 3


Não me interpretem mal. Considero “O Discurso do Rei” um ótimo filme. Exibe uma estrutura clássica e acadêmica, é formal, meticuloso, detalhista, sintonizado, equilibrado, charmoso, quadradinho, mauricinho, engomadinho, afetado... Enfim, chega a ser pedante em alguns momentos tamanha paixão que o filme sente por si mesmo. Mas ressalto, é um drama com pitadas de humor muito bem realizado. Porém, não corresponde a 1/3 da inteligência e relevância de “A Rede Social”, por exemplo, para ser consagrado no Oscar do próximo dia 27. Nessa disputa, o rei perde a majestade com facilidade. Bom, teoricamente deveria perder, mas aí entra em campo o influente Harvey Weinstein, produtor conhecido pelo histórico de arquitetar campanhas exageradas e antiéticas para arrancar à força estatuetas daqueles que merecem muito mais o prêmio do que os filmes os quais sua empresa – antigamente, a Miramax; hoje, The Weinstein Company – distribui. Somente isso explica a supremacia repentina do rei gago nas premiações mais determinantes ao Oscar, considerando que “A Rede Social” tinha sido praticamente unânime nas associações dos críticos. Essa é o principal embate dessa edição. A politicagem vai prevalecer ou o bom senso vai ecoar na cerimônia desse domingo? Como “Toy Story 3” não tem mesmo chances de vencer, torço pelo “filme do Facebook”, mas se “O Discurso do Rei” ganhar, vou lamentar mais pela manipulação escancarada dos votos do que pelo vencedor em si. Antes esse do que “Minhas Mães e Meu Pai...


MELHOR DIRETOR


"Todos vocês podem me adicionar..."

Vai vencer: David Fincher (A Rede Social)

Votaria em:
Darren Aronofsky (Cisne Negro)


Até o momento em que Tom Hooper foi agraciado pelo sindicato dos diretores no início deste mês, todo mundo apostava em David Fincher para levar Direção. Com a vitória inesperada do britânico, somada às consagrações de “O Discurso do Rei” no sindicato dos produtores e dos atores, o filme da realeza passou a ser cogitado a ganhar até em categorias que não merecesse sequer a indicação. Este é mais um caso. Bacana que Hooper adota um padrão diferenciado, com planos que fogem do visual convencional, mas há um problema de decupagem das cenas em seu trabalho que é gritante. Enfim, a coerência diz (ou não) que o melhor filme ganhe nessa categoria também, portanto aposto na excelente dissecação do universo pouco confiável criado em “A Rede Social”, embora minha torcida seja para a brilhante condução de Aronofsky por “Cisne Negro”. Se O. Russell ou os Coen levarem será uma surpresa.


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL



Vai Vencer: David Seidler (O Discurso do Rei)

Votaria em:
Christopher Nolan (A Origem), mas não vi “Another Year”


Aqui não vou nem estender a discussão senão soarei deselegante, então vamos para o próximo rs.


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO


"Paraíba! Tá aqui o meu cartão".

Vai Vencer e Votaria em: Aaron Sorkin (A Rede Social)

Antes de qualquer coisa, devo dizer que acho estupidez a Academia considerar o roteiro de uma sequência, adaptado. Não tem muita lógica essa classificação, visto que os personagens e o argumento de “Toy Story 3” se reproduzem, mas a história em si é original. Ainda que seja, pra mim, o melhor filme entre os indicados, devo reconhecer que a adaptação do livro “Bilionários por Acaso” para o cinema é de uma genialidade ímpar. A estrutura rítmica e o texto afiado de Sorkin são os principais fatores para que o filme seja um dos melhores de 2010. A concorrência é encorpada por filmes notáveis, mas comem poeira, porque “A Rede Social”, nessa categoria, é “CEO, bitch!”.


MELHOR ATOR


"Eu te arranho!"

Vai vencer: Colin Firth (O Discurso do Rei)

Votaria em: Jesse Eisenberg (A Rede Social), mas não vi “Biutiful”

Já prevejo o apedrejamento rs. Não pensem que criei algum tipo de implicância com “O Discurso do Rei”. Não mesmo, já até falei no texto introdutório que considero um ótimo filme e é justamente nas atuações soberanas de seu elenco que residem o ponto forte da pequena produção inglesa. Colin Firth está soberbo no filme. Na verdade, merecia ter vencido no ano passado por “Direito de Amar, mas, como de praxe, a Academia não vai perder a oportunidade de retratar o erro concedendo a Firth – que está no auge da carreira – o Oscar de Melhor Ator. É um papel desafiador. Gagueira é algo realmente difícil de reproduzir com convencimento – até o magnífico Paul Giamatti já errou –, sem falar (trocadilho) na dicção e no timbre de voz adotado pelo ator para compor o Rei George VI. Entretanto, Eisenberg, que não esteve preso a nenhuma dessas artificialidades, matou a pau e conseguiu humanizar um personagem que já nasce com antipatia do espectador. Pela naturalidade e raciocínio rápido de sua atuação, meu voto seria dele. Do outro lado, James Franco carrega “127 Horas” nas costas e Jeff Bridges, ladrão de banco e de vaga, não merecia estar aí e deveria ser obrigado a pedir desculpas publicamente a Ryan Gosling pelo incidente de sua indicação.


MELHOR ATRIZ


"Mas quem disse que vou perder?"

"EU! Vai encarar?"


Vai vencer e Votaria em: Natalie Portman (Cisne Negro)

Diferentemente da categoria pouco empolgante do ano passado, a de Melhor Atriz dessa edição dá gosto de ver. Ainda há um burburinho nos bastidores da possibilidade de Annette Bening levar o Oscar. Convenhamos que há fatores de sobra que a levam à vitória: o peso de sua carreira, por ser uma excelente atriz que ainda não levou o seu, por ser a presidente da comissão dos atores na Academia, por ter aparecido em todos os talk shows possíveis da TV na última semana etc. Mas Natalie Portman samba (ou dança balé, enfim) em cima dela. Se tem uma coisa que será muito injusta na noite é Portman sair de asas abanando. Concorda, Hilary?


"SUUUUUURE"


MELHOR ATOR COADJUVANTE


"Capitão Barbossa é um ícone. Fucking Jack Sparrow!"

Vai vencer e Votaria em: Christian Bale (O Vencedor)

Ele é o favorito, mas seu temperamento instável, sua fama de ser um perfeito idiota muitas vezes ofusca seu talento. Uma coisa é certa: nenhum diretor de fotografia vai votar nele rs. Quem ganha espaço com isso é o australiano Geoffrey Rush como o ator fracassado que se passa de fonoaudiólogo para curar a gagueira do monarca inglês em “O Discurso do Rei”. Como todo ator secundário que se preze, ambos dão o respaldo fundamental aos protagonistas, isso graça à excelente química que os atores dividem em cena como pela admirável performance de cada. Não farei desfeita se Rush levar o seu segundo careca dourado, mas a sinergia de Christian Bale, a composição de seu personagem em si resulta um trabalho soberbo. Pra mim, ele é o verdadeiro protagonista de “O Vencedor”, mas compreensível sua classificação como coadjuvante. Assim como Bridges, Jeremy Renner roubou banco e uma vaga, mas não reclamo jamais das lembranças a Mark Ruffalo por “Minhas Mães e Meu Pai” e John Hawkes como o tio ambíguo em “Inverno da Alma”. Mas nessa briga, Bale nocauteia cada um no primeiro assalto e sem muito esforço.


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


"O que vocês acharam da minha campanha estilo MTV girl?"

Vai Vencer e Votaria em: Melissa Leo (O Vencedor)

Com exceção de Jacki Weaver, acho que as demais indicadas nessa categoria têm possibilidades de vencer. Helena Bonham Carter por trazer momentos de graciosidade como a esposa apoiadora em “O Discurso do Rei”, além de este ser o filme com mais indicações da noite e Amy Adams por ser uma atriz em plena ascensão artística, queridíssima por todas e interpretando praticamente o mesmo papel de Mrs. Burton, adicionando o “fuck” ao vocabulário. Depois de Melissa Leo ter feito a cagada de bancar uma campanha para se promover e se justificado para “aparecer em capas de revistas” (tenha dó...), seu favoritismo se esvaiu e as atenções se voltaram para a jovem Hailee Steinfeld – a verdadeira protagonista de “Bravura Indômita”. Ainda assim, acho ignorância desmerecer o ótimo desempenho de Leo como consequência de sua atitude. Qualquer uma delas tem chances de levar o Oscar, mas ainda confio no bom senso da Academia para escolher aquela que é a melhor entre as cinco. Apesar dos pesares.


MELHOR FILME ESTRANGEIRO



Vai Vencer: Incêndios (Canadá)

Votaria em: Abstenção


Dos 5 indicados, o único que consegui assistir foi o doentio e genial “Dente Canino”, representante da Grécia. Não posso falar pelos demais, mas acho que nada seria mais surpreendente se este levasse o Oscar. Seria bizarro, uma fuga à previsibilidade que predomina nessa cerimônia. Mas a briga está mesmo entre “Biutiful” (México) – que tem grandes chances por Javier Bardem também ter sido indicado a Melhor Ator; “Em um Mundo Melhor”, a dinamarquesa Susanne Bier volta à cerimônia depois de concorrer com o belo “Depois do Casamento” em 2007; e “Incendies”, do Canadá, que conta a história de crianças que vão ao Oriente Médio procurar o pai. O filme foi muito bem recebido pela crítica e tem o perfil emocionante que o Oscar sempre busca no exterior. Por isso, aposto que será este último.


MELHOR ANIMAÇÃO

Vixe, esse é complicado. Acho que preciso de um algoritmo.


"Hummmmm... vamos ver, vamos ver..."

Vai Vencer e Votaria em: Toy Story 3


MELHOR DOCUMENTÁRIO


Vai Vencer: Trabalho Interno

Votaria em: Abstenção

“Exit Through the Gift Shop” é de longe o melhor dos três indicados desta categoria que tive a oportunidade de conferir. O outro é o corajoso “GasLand”, que retrata as perfurações no solo realizadas por grandes empresas petroquímicas para extração de gás natural. O documentário mostra como essa prática denigre o meio ambiente, chegando a afetar a água de famílias que residem próximas aos rios usados para essa atividade. “Restrepo” documenta o cotidiano de um pelotão situado no Korengal Valley, considerada a região mais perigosa do Afeganistão. É um filme com forte carga emocional, mas a altura que chegamos com essa batalha no Oriente Médio, é muito pouco mostrar apenas a rotina dos soldados, sem falar que vários documentários já fizeram o mesmo. N”ao vi “Lixo Extraordinário”, nem “Trabalho Interno”, mas considerando o assunto recente que este último retrata sobre a crise financeira de 2008, minha previsão fica com ele.

23 de fev. de 2011

Oscar 2011 - Comentários e Previsões Finais (Categorias Técnicas)


MELHOR FOTOGRAFIA




Vai vencer: Roger Deakins (Bravura Indômita)

Votaria em: Matthew Libatique (Cisne Negro)

Minha aposta para o veterano Roger Deakins implica nas nove indicações anteriores que recebeu – cinco delas para filmes dos Irmãos Coen – sem, no entanto, levar nenhuma estatueta pra casa. Já passou da hora de premiá-lo. Seu trabalho magnífico em “Bravura Indômita” faz de alguns takes verdadeiras obras de arte, a fotografia de Deakins é para se admirar, é contemplativa e enriquece a trama com beleza e uma plasticidade evocativa. Seria minha primeira opção, caso Matthew Libatique não fosse lembrado pela calculada iluminação hipnótica de “Cisne Negro”, o que me faria incondicionalmente duvidar da capacidade mental dos votantes dessa comissão. Acompanhando a vibrante câmera de Aronofsky, o diretor de fotografia captura com efervescência os distúrbios da protagonista, atribuindo significados fundamentais à narrativa, sem falar no catártico e inesquecível grand finale. Reconheço as poucas chances de ganhar, mas seria uma grata surpresa, tal qual se levasse Wally Pfister por “A Origem” – vencedor do sindicato dos fotógrafos –, Jeff Cronenweth por “A Rede Social” ou até Danny Cohen pelo belo registro de “O Discurso do Rei”. Categoria bem equilibrada e com excelentes trabalhos. Que vença o melhor – ou o que mais tem histórico.


MELHOR EDIÇÃO



Vai vencer e Votaria em: Angus Wall e Kirk Baxter (A Rede Social)

Na ausência inexplicável de Lee Smith por “A Origem”, o melhor trabalho de montagem do ano com larga vantagem, eu torço e aposto na dupla de “A Rede Social”. Qualquer um que levar se não eles, será injustiça.


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE



Vai vencer e Votaria em: A Origem

A Academia esse ano resolveu não restringir os indicados a filmes fantásticos ou reconstituições de época – representados aqui principalmente por “Alice no País das Maravilhas” e “O Discurso do Rei”, respectivamente. É louvável a abrangência para a construção do Velho Oeste de “Bravura Indômita”, a grandiloquência de “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1” e “A Origem”, um filme que aposta em um design de produção contemporâneo, mas detalhista em sua concepção. Entretanto, essa categoria está bem dividida. O hype imensurável de “O Discurso do Rei” entra em confronto com a releitura de Lewis Carroll feita pelo extravagante Tim Burton, cujas produções são figurinhas carimbadas nos departamentos técnicos. E pra completar o duelo, o filme de Nolan, que venceu o sindicato dos diretores de arte, é um forte concorrente. Tudo pode acontecer, mas ficarei fiel naquele que considero o melhor entre os cinco.


MELHOR FIGURINO



Vai vencer: Jenny Beavan (O Discurso do Rei)

Votaria em: Mary Zophers (Bravura Indômita)

Aqui a história se repete como em Direção de Arte: a preferência é por filmes de época com luxuosos vestidos, principalmente, usados por monarcas ingleses. Por que essa tradição seria quebrada esse ano justamente com o filme que totaliza o maior número de indicações nessa edição? No entanto, substitua os longos por ternos elegantes e peças muito bem modeladas e temos Jenny Beavan já preparando seu discurso de rainha. Não vi “A Tempestade”, confeccionado pela grande Sandy Powell, mas acho que de 6.000 votantes, nem 500 conferiram o filme hahaha. Comemoro a presença do classudo italiano “Eu sou o Amor” na disputa, mas o figurino de “Bravura Indômita” imprime a alma de seus personagens, num rico trabalho de vestimentas repleto de detalhes e acabamentos concisos, secos, sem firulas – o oposto de “Alice no País das Maravilhas”, cuja desenhista icônica, Colleen Atwood, tem grandes chances de levar o seu terceiro pra casa.


MELHOR TRILHA SONORA



Vai vencer e Votaria em: Trent Reznor e Atticus Ross (A Rede Social)

Mais crédito que o Oscar ganha comigo esse ano por selecionar cinco potentes trilhas sonoras no meio de tantas outras igualmente memoráveis – “Tron – O Legado”, “O Escritor Fantasma”, “O Mágico” só para citar algumas que ficaram de fora. Todas são merecedoras, mas a Academia tem a chance de fugir da obviedade premiando um trabalho mais autoral e moderno. Refiro-me às composições eletrônicas viciantes do frontman do Nine Inch Nails em parceria com o músico Atticus Ross para o “filme do Facebook”.


MELHOR MAQUIAGEM



Vai vencer: Minha Versão do Amor

Votaria em: Abstenção

Aqui só me resta palpitar, porque dos 3 indicados, só assisti “O Lobisomem”, que sai na frente como a principal aposta entre a maioria. Mas tanto “Caminhos da Liberdade” quanto “Minha Versão do Amor”, filmes que não dependem exclusivamente deste departamento para contar suas histórias, foram bem recebidos e podem surpreender na premiação. É o que espero. Sem contar que “O Lobisomem” é uma caganeira, né?


MELHOR MIXAGEM DE SOM

"The Social Network" Sound for Film Profile from Michael Coleman on Vimeo.

Vai vencer e Votaria em: A Rede Social

Outra categoria bem formada, mas que ficaria irretocável com a presença de “Tron – O Legado” e “Cisne Negro”. O padrão da Academia é premiar os mais barulhentos, mas o design sonoro de “A Rede Social” é fora de série. Os diálogos bem definidos e encorpados sonoramente – um filme majoritariamente concentrado em conversas – em combinação perfeita com a riqueza da trilha sonora bem encaixada resultam em um trabalho soberbo. “A Origem” tem grandes chances de se consagrar, o que não seria injusto de forma alguma. Mas lembramos que foi o filme dos Coen que venceu o sindicato. Aí a situação fica mais apertada...


Vai vencer e Votaria em: A Origem

Finalmente “Tron” consegue entrar em alguma coisa! Mas não é páreo para os efeitos sonoros fabulosos concebidos por Richard King, cada vez mais próximo de sua terceira estatueta dourada. “Como Treinar o Seu Dragão” e “Cisne Negro” mandaram lembranças.


MELHORES EFEITOS VISUAIS



Vai vencer e Votaria em: A Origem

Quase não dormi tentando decidir em qual votaria... mas não há dúvidas de que o Troféu Abacaxi vai para “Além da Vida”, que só entrou na categoria por uma única cena (redundante, mas devo enfatizar), que é a do Tsunami, deixando “Tron” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo” de fora. Porém, é no mínimo hilário ver um filme de Clint Eastwood indicado a Efeitos Visuais rs.


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL


"Algum leitor quer que eu cante na sua festa de aniversário?"

Vai vencer e Votaria em: “We Belong Together” (Toy Story 3)

Se antes achava a categoria bem irregular, com o tempo, aprendi a gostar das músicas indicadas – algumas foram vencidas pelo cansaço, confesso. Essa é uma das categorias mais difíceis de se prever, é chute de trivela. Eu aposto que Randy Newman leva o seu segundo, porém não se deve descartar a possibilidade de ser batido pela Rapunzel, do alpinista amputado ou pela a cantora country decadente. Aqui é questão de gosto pessoal mesmo, não tem muitos critérios para escolher o vencedor. Pra falar a verdade, sou indiferente a qualquer que seja o escolhido dessa categoria. Qualquer um está valendo.


PODCAST

Participei junto aos companheiros Klerky Washington e Alessandro Zanchin, do blog Mise-en-Cine, de um podcast especial com as previsões ao Oscar de todas as categorias. Para ouvir, clique aqui.


E pra não perder o bom humor, nem piada, nem o espaço, aqui um vídeo do que alguns esperam da cerimônia deste ano:


18 de fev. de 2011

127 Horas


Abril de 2003. Foi nesse período que o escalador Aron Ralston reservou um final de semana ensolarado para se aventurar em mais uma de suas expedições buscando explorar a beleza natural de escarpadas regiões montanhosas e aproveitar a espetacular paisagem geográfica para registrar a viagem com os dispositivos de sua única – e fiel – acompanhante, uma pequena câmera de mão. O lugar escolhido para o desbravamento foi o cânion Blue John, localizado nos confins do Estado de Utah, oeste dos Estados Unidos. Lá, Ralston conhece duas excursionistas perdidas e se oferece como guia para orientá-las no percurso, mas o destino do rapaz é outro: sua pretensão é chegar até um local estratégico para praticar rapel. No entanto, para economizar tempo e disposição física, o alpinista resolve cortar o trajeto por um atalho, mas se depara, literalmente, com uma pedra no meio do caminho. Ao apoiar-se nas paredes rochosas em uma fenda estreita, uma pedra de meia tonelada o derruba até à superfície e esmaga sua mão, o que lhe deixa prisioneiro no deserto por agonizantes 127 horas. As lembranças desse lamentável episódio deram origem ao livro “Between a Rock and a Hard Place”, recentemente adaptado para as telonas pelos oscarizados Simon Beaufoy e Danny Boyle. O resultado é uma experiência empírica das mais insuportáveis do cinema contemporâneo, e o filme em si uma das produções mais audaciosas e admiráveis em termos narrativos de 2010.

Afinal, a premissa do filme é um desafio por natureza. Como manter um público de espectadores acostumados com shows pirotécnicos de efeitos visuais permanecerem interessados em uma história que se passa quase integralmente no mesmo cenário e com um único personagem? Todos os departamentos do filme trabalham a favor para que “127 Horas” não se transforme em 93 minutos de pura monotonia, e conseguem a proeza com louvores. Não sei se é início de uma onda ou pura coincidência, mas o “cinema claustrofobia” é uma vertente que está ganhando certo destaque, considerando alguns lançamentos recentes, como “FilmeFobia” – terror brazuca experimental e pouco conhecido –, “Enterrado Vivo” e o 3-D “Santuário”, atualmente em cartaz nos cinemas. “127 Horas” incrementa esse tipo de exemplar, cuja sensação angustiante de sentir-se refém de alguma estrutura – sejam ela as profundezas do mar, um caixão ou uma rachadura entre duas montanhas – é a condição básica para o espectador corajoso que intenciona acompanhar o desfecho da armadilha casual.

Para potencializar o grau de desespero do protagonista encurralado e não deixar a sessão enfadonha, o roteiro aposta em flashbacks e algumas ilusões decorrentes da situação deplorável que ele se encontra – sem água e mantimentos, chega a beber a própria urina e comer a lente de contato. Assim, o espírito aventureiro que denunciava nos primeiros minutos se dissipa e o filme passa a investir em um drama existencialista. Durante os 5 dias que permaneceu preso nas rochas, Aron repensa a própria conduta, rendendo o melhor momento da trama quando simula um talk show representando ao mesmo tempo o anfitrião irônico e o convidado – ele mesmo – em posição desconfortável por reconhecer seus fracassos comportamentais sustentados pelo egoísmo, que o rapaz se autodeclara praticante ativo.

Sem demonstrar interesse de transformá-lo em um tipo de herói, “127 Horas” se mostra até relativamente intolerante com algumas atitudes reprováveis do alpinista, que perto da morte, passa a avaliar alguns acontecimentos dos quais se questiona os pensamentos que o levou às conclusões de seus atos – sobretudo quando envolve a namorada, que, aparentemente, ainda mexe com sua cabeça. Se algumas das recordações do protagonista se excedem e soam desnecessárias, outras beiram o lirismo, como quando Aron, enclausurado entre as rochas com direito a apenas 15 minutos diários de raio solar, se recorda de um evento da infância em que ele e seu pai assistem ao nascer do sol – sem dúvidas, uma lembrança que jamais lhe assaltaria a memória se não fosse pela emboscada que se encontra. Aí, entra em campo a espetacular montagem de Jon Harris, responsável não apenas pela requintada inserção dos flashbacks e pela dinâmica da tela dividida em partes, mas pelos cortes rápidos e precisos que entregam cada reação do rapaz com pontualidade.



Debruçando-se sobre uma linguagem moderna próxima ao videoclipe, que muito se aproxima daquela empregada em “Quem Quer Ser um Milionário?”, o diretor Danny Boyle se apropria do ritmo frenético, impulsionado pelo hábil jogo de câmeras registrando enquadramentos diferenciados, o que confere mais dinamismo à cena. Da mesma forma, Boyle utiliza recursos estéticos interessantes, como alternar o registro convencional do filme com a filmadora não-profissional de Ralston ou o recuo apressado adotado em duas cenas específicas, quando situa o espectador da profundidade em que ele se encontra e a distância do local até seu ponto de partida, evidenciado no momento em que o rapaz sedento fantasia uma bebida e a câmera localiza um Gatorade transpirando no banco traseiro de seu carro. Acompanhando todas essas alternâncias com propriedade, a fotografia da dupla Anthony Dod Mantle e Enrique Chediak é outro fator muito bem trabalhado no filme, desde a luz que salienta a aridez e o clima escaldante do cânion até a iluminação executada com profissionalismo, que altera conforme os diversos ângulos captados no mesmo ambiente.

As áreas técnica do filme, ressalto, são impecáveis. Contudo, o perfeito casamento telepático com que se comunicam pode passar despercebido por muitos espectadores não apenas pela aflição que a história evoca, mas devido ao tour de force de James Franco. Sem nenhum outro elemento para dividir a cena consigo, Franco é o centro absoluto das atenções e sua atuação é não menos que brilhante nas horas de desespero, de delírios, de esperança, tudo expressado com realismo, que, claro, não seria tão fiel se não fosse pelo desempenho dos profissionais técnicos. É uma pena, portanto, a desconfiança de que o filme vá sair com nenhuma estatueta entre as 6 categorias que compete no Oscar desse ano – incluindo Melhor Filme e Roteiro Adaptado. Mas analisando friamente a concorrência pesada, talvez essa possível “esnobada” possa consagrar filmes melhores. Ou então “O Discurso do Rei”.


NOTA: 8,0


127 HORAS (127 Hours) EUA, 2010
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Simon Beaufoy e Danny Boyle
Elenco: James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn e Clémence Poésy